Eu sabia bem quem eu era, ou achava que sabia.
Foi ali, no final da gravidez que me lancei ao mar para navegar em águas desconhecidas.
Embarquei em meu navio forte e veloz, levava comigo uma bússola e coragem. Ao longe era possível ver um farol que me indicava para onde eu deveria voltar. E caso esse farol falhasse, o céu estrelado me guiaria de volta.
E aí, aconteceu.
Meu filho nasceu e eu também.
Uma tempestade de amor e cansaço. Daquelas intensas e infindáveis. Não dá pra ver um palmo a minha frente, só o rostinho daquela criança aninhada no meu colo. E só isso que importa naquele momento. Os trovões, as ondas gigantes, a escuridão, o enjoo pelo mar mexido... Tudo pode esperar. Dá parar perceber que tem muita coisa acontecendo, mas não dá pra pensar nisso agora.
O tempo passa, a tempestade acalma e finalmente é possível ver o estrago que ela fez.
Derrubou mastros, rasgou velas, quebrou a bússola e o farol já não é possível ver, o navio foi empurrado para longe de qualquer terra firme. Nem as estrelas podem me guiar, porque nesse momento tudo é neblina.
Uma neblina espessa, que de tão densa, dá pra sentir fisicamente o seu peso. Paralisa e não permite mover, pensar, viver. E isso acende um alerta, uma urgência de descobrir a direção.
Pra onde preciso apontar o meu barco?
Primeiro, preciso arrumar o navio, pois sem ele não vou a lugar nenhum. Fazer as mudanças necessárias, organizar o básico pra conseguir me aprumar e navegar para um lugar menos nebuloso, em direção a costa.
Muito provavelmente, não vou voltar para o lugar de onde parti, e isso é ótimo! Depois de uma tempestade tão forte, não tem como eu ser a mesma pessoa que era quando me lancei ao mar.
Para isso, preciso aceitar minha condição e reconhecer o meu navio, agora com seus arranhões, rachados, defeitos e ver beleza nisso. E assim, finalmente seguir viagem, me sentindo mais forte e confiante, rumando para um novo lugar, mais bonito, ensolarado e sem neblina.
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